Mestres do haikai
Três versos, 17 sílabas, na proporção 5 / 7 / 5 entre as frases. Duas imagens mentais contrastantes são justapostas, com uma simbolizando o tempo e a outra indicando uma observação ou revelação, geralmente a partir de uma cena da natureza.
Essa é a receita para um gênero de poesia tradicional japonesa chamado haiku ou haikai, que caiu no gosto dos ocidentais, também. Os grandes mestres do haikai foram Matsuo Basho, Yosa Buson, Kobayashi Issa e Masaoka Shiki.
Nas traduções e em modernos haikais, a fórmula exata às vezes não está presente, conservando-se, porém, a concisão das palavras e a precisão imagética. Desfrute, a seguir, alguns dos poemas dos mestres precursores do kaikai.
Um mundo de orvalho de Kobayashi Issa
Um mundo de orvalho
E dentro de cada gota de orvalho
Um mundo de lutas
Acendendo uma chama de Yosa Buson
A chama de uma vela
transmitida a outra vela
― crepúsculo de primavera.
Uma flor desabrocha de Katsushika Hokusai
Escrevo, apago, reescrevo
Apago de novo e então
Uma flor desabrocha.
Sob o inverno de Natsume Sōseki
Sob o inverno
Floresta, ventos uivam de raiva
Não há folhas para soprar
Poemas traduzidos de https://www.readpoetry.com/10-vivid-haikus-to-leave-you-breathless/
A obra de arte
Anton Tchékhov
Sacha Sminorf, filho único de sua mãe, entrou no consultório do dr. Cochelkof levando debaixo do braço um embrulho de jornal. "Olá, amiguinho! ― saudou o doutor. Como vai passando? Está bem?"
Sacha, virando os olhos, a mão colocada sobre o peito, respondeu-lhe com voz agitada:
"Minha mãe manda-lhe suas saudações... Sou filho único de minha mãe e o senhor salvou-me a vida, curando-me de uma moléstia perigosa... Não sabemos como demonstrar nosso agradecimento."
"Está bem, está bem, amiguinho! ― interrompeu o doutor, satisfeito. Fiz o que qualquer outro teria feito em meu lugar."
"Sou filho único de minha mãe... Somos gente pobre e não dispomos de meios suficientes para remunerá-lo pelo trabalho... Estamos muito envergonhados... Todavia... mamãe e eu... filho único e minha mãe... rogamos aceitar este objeto como testemunho de nosso agradecimento... É um objeto caro... de bronze antigo... uma obra de arte..."
"Para quê? Não é preciso" ― interrompeu o doutor.
"O senhor não pode negar-nos este favor ― replicou Sacha, desfazendo o embrulho. Seria desgostar mamãe e a mim... É uma coisa linda... uma antiguidade... Herdamos de papai e ficou guardada como recordação... Meu pai comprava antiguidades, revendendo-as a colecionadores... Minha mãe e eu trabalhamos com isso agora."
Sacha desembrulhou o objeto, colocando-o triunfalmente sobre a mesa. Era uma candelabro de bronze antigo e trabalhado artisticamente, apresentando duas mulherzinhas, completamente despidas, em umas posturas que não posso descrever por falta de engenho e arte. As mulherzinhas sorriam e pareciam, não fosse a obrigação de sustentar as palmas, querer saltar do pedestal e armar um escândalo superior a qualquer imaginação.
O doutor lançou um olhar ao presente e coçou a cabeça:
"É, na realidade, uma obra de arte, mas... é demais. A expressão destas mulheres é licenciosa ao extremo..."
"Por que o entende assim, senhor?"
"Nem o diabo teria fabricado tal coisa. Colocar isto em cima de uma mesa é macular toda a casa."
"Que maneira de julgar a arte, doutor? ― replicou Sacha. É elevadamente artístico, repare bem. Tem tanta beleza, que a alma se eleva às regiões da imortalidade... Contemplando semelhante obra de arte esquece-se tudo que é terrestre... Olhe, olhe quanta vida, quanta expressão!..."
"Tudo isto compreendo e vejo perfeitamente ― interrompeu o doutor. Porém, meu amigo, além de ser pai de família, aqui vêm crianças, entram senhoras..."
"Naturalmente. Para o povo talvez esta obra de arte tenha outra significação. Mas o senhor, doutor, deve considerá-la acima do vulgar; além disso, recusando este presente, ofenderá minha mãe e eu. Sou filho único de minha mãe... O senhor salvou-me a vida... Lhe entregamos o objeto mais precioso que temos, lamentando ainda faltar-nos o outro par..."
"Agradecido, meu amigo; Muito obrigado mesmo... Meus respeitos à sua mãe. Contudo, na realidade, ponha-se na minha situação: os meninos brincam aqui, as senhoras vêm... Bem, deixe-o!... Você não compreende..."
"Muito bem ― exclamou Sacha satisfeito. Ponha o candelabro aqui, ao lado deste jarro. Que pena faltar o par! Que lástima! Adeus, doutor!"
Ao ficar só, o doutor permaneceu longo tempo, passando a mão pela fronte, a refletir.
"Não há dúvida de que é uma obra de arte. Seria uma pena levá-la... Hum!... É um problema... A quem a darei?"
Depois de muito pensar, lembrou-se de seu amigo, o advogado Uhof, a quem devia, por lhe haver ganho um processo.
"Ótimo! ― exclamou. Não quererá, como amigo, cobrar em dinheiro e seria acertado presenteá-lo com isto. Levo para ele agora mesmo essa diabrura. Com ele ficará a propósito, pois é solteiro e malandro..."
O doutor vestiu-se imediatamente, embrulhou o candelabro e dirigiu-se para a casa do amigo.
"Olá! ― disse ao entrar. Alegro-me de o haver encontrado em casa... Vinha agradecer-lhe pelo trabalho... e, já que não quer receber honorários, aceite este objeto. Tome!... É admirável!...
Uhof ficou encantado com o presente.
"Uma jóia! ― disse rindo. Que demônios! Quem inventou isto? Magnifico! Soberbo! Onde o encontrou?"
Depois de se haver extasiado, Uhof olhou medrosamente a porta, acrescentando:
"É admirável, mas não posso ficar com o seu presente. Não posso aceitá-lo."
"Por quê?" ― inquiriu assustado o doutor.
"Porque... minha mãe vem aqui... vêm clientes... e, além do mais, eu me envergonharia até perto dos criados."
"Oh!... Você não pode me fazer uma coisa destas! ― exclamou o doutor agitando os braços. Uma obra de arte!... Veja que movimento... que expressão!... Recusando, ficarei ofendido..."
"Se elas tivessem, ao menos, umas folhinhas..."
Mas o doutor não o escutava. Moveu a mão em sinal de despedida e, satisfeito, deixou o advogado. Voltou para casa encantado por livrar-se do presente. Ao encontrar-se só, o advogado contemplou o candelabro pelos quatro lados; tocou-o e, como o doutor, ficou longo tempo pensando no que faria com aquilo.
"É uma magnífica obra de arte! Como sinto não ficar com ela! Mas, como vou guardá-la? O melhor seria dá-la a alguém... Já encontrei. Já encontrei! À noite darei de presente ao cômico Chachkin, que estreará hoje."
Naquela mesma noite o candelabro foi entregue ao cômico Chachkin, cujo camarim foi invadido pelos espectadores, que vinham felicitá-lo pela interpretação da peça, em murmúrios e risos semelhantes a relinchos de cavalos. Quando alguma das artistas se aproximava e batia na porta, perguntando se podia entrar, o cômico invariavelmente respondia: "Não, menina, não! Estou me vestindo..."
Depois do espetáculo, o cômico esfregava as mãos e encolhia os ombros, perguntando-se: "Que farei com esta droga? Vivo em uma casa particular e recebo artistas. Se fosse uma fotografia, seria possível ocultá-la numa das gavetas da escrivaninha..."
"Venda-a, senhor!" ― Aconselhou o barbeiro ajudando-o a vestir-se. Aqui perto mora uma velha que compra antiguidades... pergunte por Smirnova: é muito conhecida."
Assim fez o cômico. Dois dias depois, o doutor Cochelkof estava em seu consultório a reflexionar sobre os ácidos biliosos, quando a porta se abriu com estrondo, dando passagem a Sacha Smirnof. Toda sua figura resplandecia de felicidade... Em uma das mãos trazia alguma coisa embrulhada em jornais:
"Doutor! ― disse radiante. Imagine a minha alegria! Encontramos o par do seu candelabro. Minha mãe está absolutamente feliz... Sou filho único de minha mãe... O senhor salvou-se a vida."
Sacha, cheio de agradecimento, colocou o candelabro diante do doutor, boquiaberto. Ele quis dizer alguma coisa, mas não pôde pronunciar sequer uma palavra: aturdira-se por completo, paralisado.
Rara flor
Kamila Tavares de Almeida
Existe uma linda flor no alto de uma montanha, que nunca ninguém havia conseguido chegar até lá para apreciar a beleza daquela flor. Houve uma competição de príncipes que queriam presentear as princesas com aquela rara flor. Apenas um príncipe conseguiu retirar a flor da montanha e entregar à princesa, porém, a viagem foi muito longa… Quando o príncipe chegou em seu castelo, encontrou a princesa com saudades… A princesa lhe questionou pela flor, o príncipe desesperado mostrou a flor já em estado seco, o que motivou a tristeza daquela princesa… E assim a flor perdeu sua essência…