26/01/2022
Josenildo Shodan
A luta pela UFNB está de volta!
Josenildo Shodan (segundo, da esquerda para a direita) - Reunião do Consisal - 2014
"Já aconteceram duas ou três reuniões e a primeira tarefa foi retomar o projeto, atualizar o projeto.”
Pedimos a um dos articuladores da luta pela criação da Universidade Federal do Nordeste da Bahia que conversasse conosco sobre o status atual dessa luta de extrema importância, sobretudo para a juventude da região. Shodan é assessor parlamentar do Deputado Federal Joseildo Ramos e tem larga participação nas lutas e conquistas do desenvolvimento sustentável e integrado, na região. Confira a seguir o bate-papo e participe também da campanha democrática pelo Ensino Superior público, gratuito e de qualidade, no nordeste da Bahia.
Quando e como começa a luta pela UFNB?
A luta pela UFNB começou em 2010. Os territórios faziam sua luta isoladamente, cada um defendendo a sua universidade. Em 2014, houve uma reunião, na sede do consórcio, em Serrinha, e lá estava o professor Paulo Gabriel Nacif (então reitor da UFRB e atual presidente do Conselho Estadual de Educação da Bahia) e outros. Houve a ideia de unificar três territórios (em torno da luta): o Semiárido Nordeste II, o Litoral Norte / Agreste, de Alagoinhas, e o Sisal. Na ocasião, eu cheguei a colocar a proposta também de inserir a Bacia do Jacuípe, já que são territórios que têm características e vocações semelhantes.
Paulo Gabriel concordou plenamente, porque, aliás, colocando a Bacia do Jacuípe, completava-se a mesorregião do nordeste (da Bahia). Então, ficaram esses quatro territórios na luta, a partir de 2014, nessa histórica reunião, em Serrinha, sede do consórcio ConSisal.
Audiência pública pela criação da UFNB - Riachão do Jacuípe - 2014
Como foi estruturada a luta e quais foram os primeiros passos?
A partir dessa organização, criou-se uma comissão interterritorial e agora essa luta passa a ser unificada e coordenada por essa comissão interterritorial. Aí começa um conjunto de atividades. As primeiras foram as audiências púbicas, uma série de audiências públicas, lembrando-se que essa universidade se propõe a atender quatro territórios, em torno de 60 municípios, com 2,5 milhões de habitantes. Então, as primeiras agendas foram feitas nesses municípios, onde houve as audiências públicas.
Da comissão se tirou um grupo, com professores. Eu também estava nessa comissão com alguns colaboradores, sobretudo a turma da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, na pessoa do professor Gabriel, professor Geraldo, professor Gilmar, de Cícero Dantas. Essa comissão ficava responsável por elaborar o projeto.
Depois de uma longa discussão, levantamento de dados, número de estudantes do Ensino Médio, que é o público-alvo principal dessa luta, dados estatísticos, características dos territórios, etc. partiu-se para outra etapa, que é a etapa da articulação política.
Do ponto de vista do espectro político, como é tratado o projeto da UFNB?
A universidade não é de um grupo, de um partido. É da sociedade. Essa articulação envolveu deputados, senadores, de diversos partidos. Houve reunião com a bancada de deputados estaduais, na Assembleia Legislativa, houve reunião com a bancada de deputados federais – aqueles que se interessaram em unir forças, nessa luta. Nós entregamos o projeto, na época, era ministro Jacques Wagner. Levamos também o projeto ao MEC. Na vinda de Lula a Feira de Santana, fizemos um ato e Lula citou a universidade, entregou o projeto a Wagner para conversar com Dilma.
Houve uma interrupção, com o que nós chamamos de Golpe de 2016. Quando se fala em golpe, não foi só o processo político montado para tirar a presidente Dilma, mas também um golpe de interrupção de projetos.
Quando se tem um governo que acreditava na expansão do Ensino Superior e de repente acontece um impeachment, e nós conhecemos a história de como foi montado esse impeachment, assumem aqueles que interromperam projetos, então isso é um golpe para aqueles que acreditam que o Ensino Superior tem que ser mais democrático.
De que forma o projeto prevê atender as populações dos territórios que reivindicam a UFNB?
A UFNB tem esse caráter democrático, tanto desse ponto de vista geográfico, de descentralizar a universidade, da região metropolitana e vir para o interior, como também no sentido do seu formato, da sua configuração. No projeto estão previstos alguns campi em municípios.
Está previsto um campus para Riachão, os colégios universitários distribuídos pelos quatro territórios, como uma espécie de preparação para a universidade, então o próprio formato é democrático.
Houvesse essa interrupção, com o golpe de 2016 e isso acabou tirando um pouco a esperança, porque os governos que assumiram, tanto Temer quanto Bolsonaro, não acreditam nessa expansão. Até já declaram isso, que universidade é para poucos, uma declaração do ministro da educação. Isso diminuiu bastante as nossas chances.
E atualmente, em que pé se encontra a luta pela UFNB?
Agora, há uma retomada, porque a expectativa das eleições desse ano é de retomada dos governos democráticos. Com isso, acreditamos também que se vai retomar a política de expansão e democratização do Ensino Superior.
No ano passado houve essa retomada (da comissão), por enquanto, com reuniões remotas ainda. Já aconteceram duas ou três reuniões e a primeira tarefa foi retomar o projeto, atualizar o projeto. Já foi atualizado. Existe uma agenda para os próximos meses, no sentido de aprovar a atualização, de retomar as reuniões presenciais interterritoriais, de retomar as audiências públicas e de retomar as articulações, tudo isso planejado… para cada mês, alguma atividade, pra gente reativar essa luta, já que as expectativas para as eleições são boas e que governos mais sensíveis possam abraçar essa luta e, de fato, conquistarmos essa universidade.
Qual deve ser a agenda prioritária da luta pela UFNB, nessa retomada promissora?
De todas as agendas, o foco principal é colocar na agenda política, no debate político, sobretudo do governo federal, no debate político dos governadores e dos presidenciáveis esta universidade. A gente tem que colocá-la na agenda política. A ideia de retomar essa organização é justamente essa estratégia de fazer com que os candidatos, tanto a deputado, governador, senador e principalmente candidato a presidente possa se comprometer com essa luta. Apontaria isso como o principal foco objetivo dessa etapa de retomada da campanha pela Universidade Federal do Nordeste da Bahia.
29-12-2021
Bruno Elton C. Santiago
“...como a barragem está entupida, qualquer chuva que der aí e que venha água com força de outras áreas… ou do próprio município, e suba aí 1m, 2m, tende a inundar as casas.”
O geógrafo e mestre em Ciências Ambientais Bruno Elton C. Santiago fala das implicações do aquecimento global, no tocante às cheias que atingem o sul da Bahia e podem alcançar a Bacia do Jacuípe também. Bruno é Tecnologista em Informações Geográficas e Estatística do IBGE, natural de Vila Guimarães, Riachão do Jacuípe.
José Avelange – De que forma esses famosos fenômenos climáticos estão relacionados com as cheias que vêm causando tantos transtornos e sofrimentos, no sul da Bahia, e com o que pode acontecer também em Riachão do Jacuípe e no nordeste, em termos de quantidade de chuva?
Bruno Elton – No sul, o que causou os alagamentos foi a zona de convergência do Atlântico Sul. Isso traz grande umidade, que fica localizada na mesma área, por três ou quatro dias, ocasionando muita chuva. Além da zona de convergência do Atlântico Sul, houve uma tempestade tropical, que é também o acúmulo de umidade gerada no próprio Atlântico. Então, houve dois fenômenos ocorrendo simultaneamente, na mesma área.
Em Itamaraju, choveu 315mm em um só dia, justamente pelo fenômeno de convergência do Atlântico Sul e com o ciclone subtropical, que foi o outro fenômeno que causou esse acúmulo de umidade, na área. Como a água tende a se deslocar de zonas mais altas para zonas mais baixas e só tem dois caminhos possíveis, que é o escoamento e a infiltração, havendo um grande volume de água em curto espaço de tempo, isso ocasionou cheias e inundou várias áreas da região.
Há uma questão relativa à hidrografia, que eles chamam de cheia recorrente ou cheia excepcional, em que, mesmo que não tenha fenômeno externo capaz de causar isso, esse fenômeno ocorre em intervalos entre 30 e 50 anos. Então, dentro desses períodos, há grande possibilidade de haver cheias como houve no sul da Bahia, ou mesmo como houve em Riachão, em 2016.
A região atingida vai depender principalmente de aspectos geomorfolóicos. Por exemplo, se tiver várias casas próximas à planície de inundação, várias barreiras no caminho da água, o canal do rio assoreado, etc. tende a inundar mais. Aí é mais no período que a chuva é mais frequente na região e varia de região para região.
No caso de Riachão, geralmente esses fenômenos, tanto de cheia recorrente quanto excepcional, podem ocorrer principalmente no mês de janeiro, causadas mais pela zona de convergência intertropical. É a mesma dinâmica da zona de convergência do Atlântico Sul. A única diferença é que, na zona de convergência do Atlântico Sul, é a umidade gerada pelo Atlântico Sul e se desloca do oceano para o continente... Bahia, Tocantins. No caso da zona de convergência intertropical, são massas de ar formadas na Amazônia. Então, o vento transporta essa umidade da Amazônia e acaba gerando fortes chuvas na Bahia, no nordeste, de forma geral.
No caso do La niña, é o contrário do El niño. Esse vai aquecer mais as águas do Oceano Pacífico, então isso tende a diminuir mais as chuvas em Riachão e no nordeste, de um modo geral. Já o La niña tende a aumentar as chuvas do nordeste, norte e centro-oeste e tende a diminuir as chuvas, no sul e no sudeste. É um fenômeno em escala mundial. O que é que está ocorrendo? Como a água do Pacífico está mais fria, a água do Atlântico Sul tende a ficar mais quente, então isso consegue gerar mais umidade e trazer mais chuvas.
José Avelange – Como você avalia o cenário de possíveis chuvas intensas, em Riachão do Jacuípe, daqui para a frente?
Bruno Elton – No caso específico de Riachão, hoje eu vejo como uma situação mais difícil do que as cheias de 2016. Aumentou muito a quantidade de casas, principalmente na parte do Boqueirão, e a maioria das casas é dentro da planície de inundação, que nada mais é do que onde a água passa quando o rio enche. Então, se tem mais casas na beira do rio e, com o fenômeno La Niña pode haver mais tempestade e mais inundação, então pode ocorrer, num evento desse… Vamos supor: se chover 130mm num dia e 100mm em outro, seria inevitável alagar várias casas em Riachão, principalmente nos bairros mais baixos, Alto do Cruzeiro, Alto do Cemitério e principalmente Jatobá, Barra e outros bairros que surgiram perto do Boqueirão.
O Rio Jacuípe é mais alto do que o Boqueirão, então, se tiver uma cheia no Jacuípe e outra no Boqueirão, a água que vem do Boqueirão não consegue entrar no Jacuípe, então, ela retorna para a cidade. Foi isso que causou aquela inundação de 2016. Como a água não consegue passar, ela vai se espalhar pelas margens do rio. Quanto mais casas, mais obstáculos tiver, mais ela vai tender a subir o nível do rio e atingir mais residências.
José Avelange – Você acredita que inundações desse tipo são mais prováveis atualmente do que há anos atrás?
Bruno Elton – Com as mudanças climáticas, o aquecimento global, esses eventos extremos, inundações, tempestades severas, secas… tendem a ocorrer com mais frequência, a exemplo das cheias recorrentes e da cheia excepcional, que ocorre entre 30 e 50 anos. Com o aquecimento global, o evento climático extremo, em vez de ocorrer em 30 anos, esse intervalo pode diminuir, ocorrer o mesmo fenômeno em 10 anos ou até menos e aí causar mais problemas. A pessoa prejudicada pode não ter recursos para se recuperar. Se chove todo ano, inunda todo ano, o indivíduo não tem recursos e acaba sendo forçado a migrar daquela área em que está vivendo.
José Avelange – Por que o Rio Jacuípe tem transbordado tanto, nas últimas cheias registradas, na região?
Bruno Elton – Um dos grandes problemas do Rio Jacuípe é o desmatamento. As margens estão totalmente desmatadas e isso acaba assoreando o rio, ou seja, tem mais areia no rio e isso diminui a profundidade do canal. Ali, no Alto do Cruzeiro mesmo, onde tem várias olarias. O rio ali, qualquer passo que subir, por exemplo, 50cm, 1m já está próximo à beira das casas. Se subir 5 ou 6m, a tendência é a água retornar pelos canais que vão para o rio e isso acaba inundando mais áreas, até mais distantes do que a planície de inundação, porque a água não consegue entrar no rio, então ela acaba retornando e inundando mais áreas.
A água, quando ocorre a inundação, ficando muito tempo parada, pode estar contaminada pelos esgotos e isso pode gerar várias doenças de veiculação hídrica: cólera, hepatite A e muito mais, se a água ficar parada, sem se tomar providências.
José Avelange – O que mais você pode constatar, através de seus estudos sobre o Rio Jacuípe, em Riachão do Jacuípe?
Bruno Elton – Na dissertação do mestrado, eu medi pontos, em toda a cidade, praticamente. O local que deu o ponto mais alto, em si, a altitude, foi o Alto do Cruzeiro, com 223 m, ali antes daquelas olarias, onde foram feitas aquelas valas lá, para tentar colocar caixas de saneamento, ou sei lá o que é que iriam fazer. Não é tanto a questão do local, da altitude, em si, que é maior do que na barragem, no próprio Ranchinho. É a questão da margem do rio. Justamente nesse local que é mais alto, 223m, as margens do rio eu acho que não dão 30cm ou 40cm.
Então, como a barragem está entupida, qualquer chuva que der aí e que venha água com força de outras áreas, de Gavião para cá, ou do próprio município, e suba aí 1m, 2m, tende a inundar as casas, porque a margem é muito baixa, por causa da destruição causada, tanto pelas residências quanto pelas olarias que estão nas margens. Ou seja, a olaria cavou, o rio se espalha mais, em vez de concentrar a água na profundidade do canal. Também, o substrato ali são rochas, então não tem como o rio escavar mais profundo. Tende a ir para os lados.
José Avelange – Qual seria a área da cidade mais afetada por uma nova cheia do Jacuípe, segundo suas pesquisas?
Bruno Elton – Naquela área do Alto do Cruzeiro, se não me engano, até a ponte nova ali, são rochas. Já está no granito. Não tem como o rio escavar mais. A tendência é de, se houver cheias causadas por chuvas intensas, ir para o lado da cidade, para a margem esquerda, porque na margem direita, o rio é mais alto. Em termos de profundidade do rio, onde está menos sujeito a ser inundado é no Ranchinho, porque, no Ranchinho, o rio consegue ter profundidade e as margens são altas, então é mais difícil inundar o ranchinho.
José Avelange – O que você propõe como medida de prevenção para a espécie de transtorno ambiental anunciada para Riachão do Jacuípe?
Bruno Elton – Uma medida simples para diminuir a questão de alagamento na cidade era justamente a prefeitura fazer seu papel, não autorizar a construção de residências em áreas sujeitas à inundação, principalmente na planície de inundação do Boqueirão e do Rio Jacuípe. Acontece o inverso. O cara compra lá seu terreno, alguém vende lá, e o cara constrói sua casa praticamente dentro do rio. O que eles deveriam fazer seria não aceitar a venda de terrenos, loteamentos, construções próximo ao rio. Isso é o mínimo que a prefeitura deveria fazer para evitar tragédias futuras, além da conscientização da população. Muitas são pessoas que podem construir em outros locais e acabam optando por construir em áreas sujeitas a inundações, sejam esporádicas ou recorrentes.
A barragem municipal, o prefeito Laurinho, salvo engano, no primeiro mandato, tentou dragar a areia. Não adianta nada, porque se dragar a areia, com as margens do Jacuípe e do Boqueirão todas desmatadas, toda a areia que retirou da barragem retorna com as águas e acumula do mesmo jeito.
Uma parte mais complexa seria dar incentivo econômico ou qualquer outro meio ao produtor rural para que ele comece a plantar árvores, principalmente nas margens dos afluentes do Jacuípe e no Jacuípe, aqueles que têm terras próximo ao rio, porque aí diminuiria a erosão e, com o tempo, poderia adicionar mais profundidade. Isso evitaria cheias futuras. A barragem com capacidade de 5m de profundidade evitaria muitas cheias no Jacuípe, porque um grande impacto da cheia ali seria amortecido pela barragem.
31-10-2021
Olney São Paulo Jr.
“...mais importante que o Olney é o símbolo, a mensagem de sua trajetória.”
Olney S. P. Jr., no Festival de Música de La Roche Bernard, França.
Ele viveu na Espanha, Inglaterra, Suíça e França. Graduou-se em Análise de Sistemas e História e também tem experiências com o cinema e a música, mas se define mesmo é como sertanejo, filho de outro sertanejo, o grande cineasta jacuipense Olney São Paulo, cuja vida e obra é o principal assunto da conversa, a seguir. Nessa conversa, Olney Júnior, casado com Sara e pai de dois filhos, fala também sobre a carreira de seus irmãos Ilya São Paulo e Irving São Paulo, atores com grandes atuações no cinema e na televisão, e sobre toda sua família marcada pelo sequestro de Olney São Paulo, pai, durante a Ditadura Militar.
José Avelange – Como você apresentaria Olney São Paulo para a nova juventude que lamentavelmente parece desconhecer este grande cineasta jacuipense e brasileiro?
Olney São Paulo Jr. – O Olney nasceu num Riachão do Jacúipe de 1936. Imagine o que era o Riachão em 1936, que tipo de informação poderia-se ter por aqui. Por questões familiares, após a morte precoce de seu pai, Joel São Paulo Rios, sua mãe, Rosália Oliviera São Paulo, se transfere para Feira de Santana. Isso foi por volta de 1948. Imagine o que era Feira de Santana, que tipo de informação se poderia ter em Feira de Santana, na decada de 1940.
Por acaso em 1954 o Alex Viany filma um episódio de Die Windrose, em Feira, e o Olney se apaixona de vez pelo cinema, passa a frequentar regularmente cineclubes em Salvador, voltando pra Feira no mesmo dia, em 1955, faz o primeiro filme, um curta experimental ‘Um Crime na Rua’, participa da edição de jornais e revistas, funda clubes de cinema em Feira, movimenta culturalmente Feira de Santana, em 1963 consegue a proeza de fazer um longa metragem, maravilhoso por sinal, ‘O grito da Terra’, em 1967 migra para o Rio de Janeiro, realiza ainda outros tantos filmes importantes para a cinematografia Brasileira, filma o emblemático ‘Manhã Cinzenta’ filme consagrado mundialmente, mas filme que lhe condena ao sequestro, pelos militares, e a prisão. Saindo bem debilitado pelas torturas sofridas, ainda consegue realizar mais uma dezena de filmes e finalmente morre das sequelas da prisão, aos 41 anos, em 1978, de forma que eu poderia apresentar esse cara como um Meteoro Intelectual, como um Gênio Incompreendido, como o Glauber definiu, um Cineasta Maldito, como o Cosme Alvez Neto definiu, Uma Flor de Pessoa, ou como o cara que conheci, Um Nordestino! Eu acho que mais importante que apresentar o Olney para uma juventude usada, mal tratada, uma juventude corrompida por esse modelo econômico tão cruel, mais importante que o Olney é o símbolo, a mensagem de sua trajetória. É apresentar a possibilidade, o tudo.
Uma vez, em Paris, estava em um debate sobre um filme, no Centro Georges Pompidou, e pediram que me identificasse. Eu disse: Meu nome é Olney São Paulo. A mesa começou a rir da minha cara. Olney São Paulo está morto. Eu respondi: eu sou o filho. Quem diria que o menino de Riachão de Jacuípe seria ainda lembrado na Paris de 1986? Então seria interessante apresentar para essa juventude, a possibilidade de se reinventar, como um nordestino. E não como o modelo feudal que condiciona seu futuro à sua origem.
José Avelange – Você acredita que os sucessivos governos municipais de Riachão do Jacuípe negligenciaram a preservação da memória e a propagação do legado de Olney e seria por conta disso que o Brasil parece acreditar que ele era originário de Feira de Santana?
Olney São Paulo Jr. – Hahaha! É bem possível. O Riachão de Jacuípe teve muito sofrimento. Desde criança passo minhas férias aqui. De forma que conheço um pouco a realidade Jacuipense. Feira de Santana negligenciou bastante o Olney. Mas o Olney não negligenciou nem o Riachão nem Feira. O Ilya, meu irmão, filmou aqui no Riachão, um documentário sobre a cidade, ainda garoto. O Olney quem bancou o filme, equipe, etc. O Olney volta e meia filmava pela região, mesmo morando no Rio de Janeiro, onde só fez dois filmes: O Manhã Cinzenta e O Dia de Erê, seu último filme. Mesmo os documentários sobre o Teatro Brasileiro não são exclusividades cariocas, filmados em São Paulo, Rio, Salvador… Riachão está perdoado pelo esquecimento de outrora. Hoje tenta recompensar isso, de uma forma ou de outra, e isso me emociona muito, mas tem que lembrar que o nome dele era Olney Alberto São Paulo ou Olney São Paulo e mudar o nome da rua que está como Olney São Paulo Rios, Hahahahaha. Se formos falar de negligência ao Olney… O Rio de Janeiro negligenciou o Olney, a Embrafilme não só negligenciou como boicotou e muito o Olney. Até mesmo muita gente que se pensava amiga…. Enfim…
José Avelange – Quem era Maria Augusta e quando e como ela entra na vida de Olney?
Olney São Paulo Jr. – Maria Augusta Mattos Santana, depois Maria Agusta Santana São Paulo, foi o grande amor da vida do Olney. Ela era professora de português e aluna dele, no Santanópolis, onde ele ensinava Matemática. Foi um amor determinante, casaram-se em Feira de Santana, dois ou três anos após se conhecerem e tiveram 4 filhos e muita estrada juntos. Aquela menina interiorana, virou uma diretora de produção e eles realizaram o restante da filmografia do Olney juntos. Ela foi o grande amor da vida dele e ele o dela. A barra pra ela foi pesada quando ele foi sequestrado. A barra dela foi pesada enquanto ele estava preso. A barra dela foi pesada logo quando ele saiu. Os militares conseguiram machucar muita gente com isso. Mas quem era Maria Augusta? Eu responderia que uma pessoa fantástica, que eu não soube entender.
José Avelange – Você se sente à vontade para falar do atentado passional que Olney sofreu? O que você sabe disso tudo?
Olney São Paulo Jr. – Hahahaa. Claro, sem problemas. A história oficial é que Navarro dá um tiro acidental com uma pistola 6.35, certamente uma Beretta. Navarro era amigo dele e Maria Augusta era a ‘Rosinha do Arraiá’, a mulher mais bonita da cidade e Navarro também estava de olho nela…. Hahaha. Mas daí uma tentativa de assassinato acho pouco provável, bom… Apontar a arma pelas costas de alguém pra simular um tiro não é muito louvável e já demonstra um inconsciente falando. Hahaha, Mas que tenha tentado matar o Olney eu acho pouco provável. O fato é que a bala entrou pelas costas a um milímetro da coluna vertebral, atravessou um plumão, passou a um milímetro do coração e ficou presa em uma das costelas, sendo extraída pelo tórax. E a ironia da coisa. Por conta das torturas e de um famoso caldo de cultura, injeção comum nessa época. Uma verdadeira bomba bacteriológica a retardamento, o Olney desenvolveu um câncer generalizado numa rapidez inexorável. E o pulmão que o manteve vivo foi justamente o perfurado por Navarro. Hahahahaha.
José Avelange – Você acredita que, caso o filme Manhã Cinzenta não tivesse sido exibido, naquele episódio do sequestro do avião pelo movimento que lutava contra a Ditadura Militar, em 1969, Olney não teria sofrido a violência do regime, de forma tão drástica, ou o pensamento e o êxito da obra dele no exterior, por si sós, atrairiam a perseguição, de qualquer maneira?
Olney São Paulo Jr. – O Henrique Dantas, pesquisou e entrevistou uma das aeromoças e o filme nunca foi exposto. De forma que esse episódio romântico, tido por tantos anos como verdade, foi desmentido. Eu adoro a ideia dos caras exibirem um filme do ‘patriótico camarada Olney São Paulo’, mas isso, aparentemente, não aconteceu. Desde antes do desmentido, eu sempre disse que eles, os militares, não precisavam disso pra enquadrar o Olney na lei de Segurança Nacional. Como de fato não precisavam. Porque fizeram isso com o Olney, porque está no DNA de milico, tem que bater, tem que arrebentar, tem que amedrontar. Porque escolheram o Manhã Cinzenta, porque são burros, e está no DNA de milico ser burro.
O Manhã se tornou um ícone da Esquerda. Um filme alegórico, sim, um filme genial, sim, um filme premiado, apesar dos milicos, sim. O filme O Grito da Terra feito em 1963, que trata do amor, sim, mas trata do coronelismo, trata do latifúndio, trata da miséria do povo, por causa dos latifundiários, fala do Cavaleiro da Esperança, fala da tão urgente Reforma Agrária que o país nunca faz, etc. Esse filme foi julgado fraco pelos censores, com algumas cenas de sexo, mas um filme fraco… Não lembro mais qual site a gente encontra o relatório da censura sobre o Grito. Mas eu cheguei a ler e dei muita risada de como o képi pode prejudicar o cérebro..hahahahah
José Avelange – Como você, sua mãe e seus irmãos vivenciaram essas ocasiões dramáticas da vida de Olney?
Olney São Paulo Jr. – Foi muito sofrido isso, mesmo depois de absolvido a polícia, continuava a chegar de madrugada, batendo ou quebrando a porta da sala pra intimidar, pra torturar psicologicamente a todos nós. Eu mesmo fiquei escondido com uma família amiga. O Olney teve que fugir também, enfim. Foram momentos muito ruins. Muito ruins mesmo de lembrar.
José Avelange – Como foi a educação de vocês, filhos, num período tão tumultuado e como você apresenta a si mesmo e os seus irmãos, em termos de vocação acadêmica e artística? Quem é quem?
Olney São Paulo Jr. – Bom, todos nós, com exceção da Pilar, estudamos em escolas públicas. Nossa educação eu classifico como uma educação privilegiada, pois o nível de papo era muito bacana, muito amigo, muito humano. A casa era cheia de pessoas interessantes, amigas, esclarecidas, bem humoradas, risonhas. Gente de respirar leve e pensar profundo. O próprio Olney era muito brincalhão e risonho, apesar de tudo. Eu diria que não se discutia fatos em casa, se discutia princípios. Eu lembro da paciência dele com minhas eternas perguntas. Hahaha
Meus apelidos eram Deputado Baiano, por falar demais e Mala de Mão por estar sempre com o Olney. O apelido do Ilya era Dr Honoris Causa, por usar óculos e o Irvinho era Corisco, por imitar a cena de Deus e o Diabo na Terra do Sol, onde o Corisco grita antes de morrer: mais forte sejam os poderes do povo e cai com os braços abertos em cruz. Hahahaha, A Pilar, muito pequena ainda era a Pilareta. Pilar veio num 11 de maio de 1971. Quanto a quem é quem, eu trabalhava com ele o tempo todo. O último trabalho foi a montagem do Dia de Erê, mas quando morreu eu não queria mais fazer cinema. Ele morreu em fevereiro e em agosto de 1978 eu comecei a trabalhar no Centro de Processamento de Dados da Sul América Seguros, como estagiário, e depois fiz a Faculdade, já com 18 anos, de Análise de Sistemas.
Fiz, como ator, ainda alguns filmes com o Luiz Paulino, Emanuel Cavalcanti e o Nelson Pereira dos Santos, mas eu não me via mais em cinema. Aquilo doía muito e eu não queria mais. Continuei com os computadores, mesmo em Paris, e depois fiz a faculdade de História. O Ilya continuou como ator e fez a Faculdade de Música. Além de ator é músico, também. Aliás, somos os três músicos, até tocamos juntos no Rio de 1980.
O Irvinho (Irving São Paulo) logo ingressou pra Globo, numa novela chamada Final Feliz, e virou o ator do Brasil. Seu último trabalho em Cinema foi o Filme Cascalho, do Tuna Espinheira, e a Pilar, saiu do Brasil logo após que eu fui pra Paris. Foi embora pros EUA e lá se formou em enfermagem. Hoje tem um marido, um filho e uma filha maravilhosos. É a minha menina linda!
Eu não saberia dizer o currículo dos meus irmãos, pois eu fiquei vinte anos fora. Teria que procurar na internet pra responder e isso não seria honesto aqui. Encontrei o Ilya em Paris, ficou lá em casa, quando voltava de um festival, na Alemanha. Era ator do filme A terceira margem do Rio, de Nelson Pereira dos Santos, Pilar e Irvinho vieram me visitar algumas vezes também. Duas ou três.
José Avelange – O que houve com a saúde de Irving São Paulo, seu irmão e grande ator, que o Brasil perdeu, tão jovem ainda?
Olney São Paulo Jr. – Como disse acima. A brutalidade do regime militar afetou a todos nós. Não ficou nenhum de nós virgem dessa experiência. Cada um sofre de sua maneira. Imagine que você está assistindo um filme e não entende algo. Você volta o video cassete tantas vezes seja necessário pra entender. Pois é. Cada um de nós passa por seus mecanismos de ressignificação. O Irvinho imaginou uma forma radical de se ressignificar. Repetiu o script do pai e arranjou um jeito de morrer exatamente do mesmo jeito do pai. De uma maneira fulminantemente rápida e aos 41 anos.
José Avelange – O que faz Ilya São Paulo ultimamente? Vocês têm conversado sobre o cinema, a televisão, no Brasil? Como estão vendo essa fase complicada por que passam as artes, nesse país?
Olney São Paulo Jr. – Infelizmente não vejo muito o Ilya. Estive com ele em alguns festivais de cinema. Ouro Preto, Brasília, e outro que não lembro agora. Não conversamos quase nunca. Ele publicou um livro, mas ainda não o recebi. Sei que está bem e que tem trabalhado com televisão e teatro no Rio. Eu não assisto Tv, o máximo que consigo é um Journal de uma emissora francesa que assisto pela internet. De forma que acompanho o Ilya, mais pela Pilar, que estou sempre em contato. Ilya e eu somos muito parecidos. Muito bichos do mato. Hahahahahahah
José Avelange – Serem filhos de Olney São Paulo representou mais facilidade ou dificuldade, na trajetória de vocês?
Olney São Paulo Jr. – Eu não saberia responder isso. Ser filho de seu pai, seja ele quem for é sempre bom e motivo de orgulho e satisfação. E digo seja ele quem for. Pelos meninos, não saberia dizer. Porém, ser filho de um cara que foi preso, isso criou problemas sim. Não me arrependo de minha vida. Não me arrependo das decisões que tomei. Eu era até um bom ator e em cinema já fiz de tudo, de correção de foco até ator, passando pela produção e assistência de direção. Mas a perda do Olney foi muito forte e eu preferi sumir. E sumi! Hahahahahahah
José Avelange – Depois de viver lá fora e de uma formação consistente, em História, você volta a viver em Riachão do Jacuípe. Como você avalia a vida, por aqui?
Olney São Paulo Jr. – Veja bem, Riachão está entranhado em mim desde pequeno. Adorava ouvir meu pai contar as estórias (estórias, sim, com e, essa nova reforma perdeu o juízo) de seu pai Joel, das coisas que ele fazia, etc. Minhas férias passava aqui junto com meu primo Lincoln, filho de tia Jovita e IoIô e junto à minha eterna namorada, hoje, finalmente esposa, Sarinha filha de tia Raulinda e Boy. Eu vivo numa roça, perto da cidade, trabalho ainda com alguns antigos clientes da França, vou a Salvador ver meu filho, comprar alguns livros. Passo a vida, tranquilo, junto com minha namorada e minhas filhinhas que adoro, dizerm que são cachorras, mas são minhas filhas, Thalia et Clio, minhas musas gregas, e Sarinha, minha musa jacuipense. E tenho várias plantas e bichos aqui, mas tenho sobretudo, três umbuzeiros e um pé de laranja. Qando chegávamos do Rio, em Feira de Santana, após quase dois dias de carro, eu ia com o Olney pra o sinal da Getúlio Vargas com a Rua do Sol, rua onde nasci, comprar umbu. O Olney era doido por umbu. E a Maria Augusta sempre quis morar num sítio e ter uma laranjeira. Eu sou um sertanejo. É fácil tirar um sertanejo do sertão, as sucessivas políticas econômicas brasileiras, o eterno descaso das autoridades vêm fazendo isso há anos. Quando foi lançado Vidas Secas de Graciliano e quanto tempo ficou na gaveta antes de ser lançado?
Vidas secas fala disso, dessa política de descaso, dessa miséria projetada, dessas vidas secas que morrem nos andaimes pra construir o Sul Maravilha. É fácil tirar o sertanejo do sertão, quero ver é tirar o sertão do sertanejo! Acho que na verdade eu estou vivendo em paz, com minhas sandálias de couro quem sabe? Hahahahahha
José Avelange – Olney foi estudante engajado, um leitor curioso, autor de textos interessantes para jornais e revistas, desde muito cedo. Como você analisa a tendência das chamadas gerações Y, Z, etc., no sentido de aparentemente não ler quase nada, ler às vezes coisas superficiais e de não escrever, nos espaços muito mais disponíveis atualmente, nem se engajar? A vida e obra de Olney podem servir de estímulo para modificar essa tendência, especialmente na região onde ele nasceu e viveu? Como criar esse estímulo, em sua opinião?
Olney São Paulo Jr. – Sem querer eu já comecei a responder a essa questão na primeira pergunta. Essas gerações sofrem e muito com a guinada que o Capitalismo dá nos anos 1970. A fase de ouro do Capitalismo Americano do pós-guerra, finda nos anos 1960, dura duas décadas e meia ou até inicio dos anos 1970. Pra ter uma ideia, em 1944 os acordos de Bretton Woods definem as novas diretivas para o Capitalismo Financeiro, inclusive o Padrão Ouro, como lastro monetário, além de outras medidas do novo Capitalismo que seria exclusivamente americano.
O que não se contava era que o Japão e a Alemanha se desenvolvessem tanto ao ponto de ameaçar a hegemonia financeira americana, nos anos 1960. Então Nixon resolve abandonar o Padrão Ouro e nortear o Dólar americano pela balança comercial ou melhor, ao gré dos interesses americanos. A Guerra do Vietnã arruinava os EUA e foi bem cômodo desregular a economia. Resultado: Wall Street explode de alegria e o Capitalismo passa a ser exclusivamente especulativo. Isso acontece no estômago da baleia imperialista.No país que condiciona as politicas econômicas, não apenas de seus vizinhos, mas em escala mundial.
A supremacia americana, após a Segunda Grande Guerra, forjou um mercado de consumo, um status quo onde o modelo de consumo americano era o modelo ideal de vida. Nesse modelo, não havia parte para outro sonho que não seja o Americano. Os países da América Latina pagaram um preço muito alto por essa ascensão Nipônica e Germânica. O pós-guerra pariu a geração coca-cola, geração cowboy, etc. Os anos 1970 pariram uma geração leite em pó. A Guerra Fria deu um sentimento de desespero, que até disco voador apareceu. Precisou o inconsciente coletivo criar um invasor externo, intergalático para tentar unir os dois irmãos briguentos: USA et URSS.
Essas gerações sofreram muito com a democratização dos meios de comunicação, a televisão, por exemplo, passou a existir até nos interiores mais miseráveis. As geladeiras a gás e a televisão comunitária por gerador nos coretos, à noite. A televisão conseguiu anestesiar essa turma toda com suas novelas e padrões de comportamento. É a geração do ‘naturalmente você ja foi a Disney’ como diria Ariano Suassuna. O mundo se dividiu entre os que foram e não foram à Disney, claro que isso é uma metáfora pertinente. O fato é que no modelo de consumo norte-americano não há espaço para a cultura de massa. Essas gerações podem, sim, se espelhar na possibilidade de serem o que desejarem ser e continuarem em paz com suas origens.
José Avelange – O que você tem a dizer aos jovens e adultos com veia artística, com interesse pelo cinema, literatura, livre pensamento, etc., especialmente, no nordeste, na Bahia, nos Territórios Bacia do Jacuípe e Sisal?
Olney São Paulo Jr. – O livre pensar é uma coisa muito complicada e dolorosa. Eu não acredito que exista isso de fato. O livre pensar, nem mesmo Voltaire ou Bakounin, Montaige ou La Boetie, pelo simples fato de sermos produtos culturais. Somos a acumulação das nossas culturas. Somos nossos torturados e nossos torturadores. Somos a soma das belezas do pensamento e suas subtrações hediondas. Somos o Jardin de Giverny e somos Hiroshima. Acho que nessa loucura toda temos que ter um norte humano, o meu é o conceito de perenidade. Não ha resposta ideal pra vida. Não ha solução melhor pra um problema. Há a mais perene. A melhor situação para um problema é a situação mais perene. A que melhor resolver num maior espaço de tempo. Isso pra mim seria livre pensar. Tentar encontrar em minhas limitações, posturas que melhor fossem por mais tempo. Eu creio que não ha vida sem arte e o Nordeste nos ensina isso. A Bahia nos ensina isso.
Eu diria que hoje em dia, com qualquer celular, você tem equipamento. Se tem interesse em cinema, faça cinema. Não escutem os puristas que diferenciam vídeo de cinema. Isso é uma bobagem. Façam cinema. O Nordeste do Brasil é uma região rica culturalmente em zilhões de aspectos. Se o cara quiser fazer um documentário propondo uma teoria que o Sol do Nordeste é mais bonito, faça! Faça poesia com seu celular. Assista a filmes, mas não se doutrine. E leiam, leiam e leiam muito. Se o cara quiser escrever, escreva, diga sua ideia, chore com a gente, ria com a gente, desligue a televisão e abra um livro. Eu diria que ler reúne dois prazeres maravilhosos em um mesmo momento: Estar só e acompanhado!
2020-10-04
Haverá debandada das redes sociais,
após as revelações do documentário O Dilema das Redes?
Confira, neste mini-podcast, quais as redes sociais preferidas dos brasileiros e quais as reações do público, após ex-funcionários das Big techs revelarem como as redes sociais agem para viciar os internautas e captar tudo sobre eles para assim maximizar seus lucros. Para ouvir, sem baixar aplicativo, clique sobre "ouvir no navegador".
2020-08-15
Anedotas sobre Einstein
Uma boa pedida para quem já se cansou da mesmice da internet é procurar por histórias interessantes ou engraçadas, envolvendo personalidades conhecidas.
Facilitamos essa busca para você, trazendo três anedotas surpreendentes sobre Albert Einstein.
É só clicar e ouvir. Se estiver acessando pelo celular, lembre-se de escolher a opção "Ouvir no navegador".
A comunidade escolar e o isolamento social
Inauguramos a coluna Byte-papo, fazendo este trocadilho com o estrangeirismo byte, que se refere a uma unidade de informação digital e indica, portanto, o bate-papo em meio eletrônico, que passamos a oferecer aos leitores, em torno de temas relevantes que dizem respeito à realidade regional e global.
Nesta primeira prosa de interesse público, converso com o psicólogo jacuipense Janderson Carneiro, formado pela Universidade Federal da Bahia, mestre e doutorando em Memória: Linguagem e Sociedade, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. A título de apresentação, começaremos conhecendo um pouco da trajetória dele e, em seguida, entramos no tema central da conversa.
Janderson Carneiro
“Os estudantes e seus familiares estão inseridos nesse contexto anormal e, por vezes, sentem sensações que são típicas (…) tendo sempre como pano de fundo o risco de ser contaminado e contaminar as pessoas que amamos. Somos todos potencialmente contamináveis.”
José Avelange – Como foi feita a sua escolha vocacional/profissional, enquanto jovem jacuipense, dentro das condições próprias de uma cidade sertaneja e sem maiores oportunidades?
Janderson Carneiro – A escolha vocacional/profissional é sempre um processo difícil, quando levado a sério e com honestidade. A minha escolha profissional nasce no recinto do sagrado, quando ainda postulava a Vida Religiosa, na Sociedade Divinas Vocações (Religiosos Vocacionistas). No último ano de Vocacionário, como é chamada toda casa vocacionista, senti a necessidade de algumas sessões de psicoterapia e sinalizei ao formador que precisava passar por um processo de autoconhecimento, o que foi prontamente atendido. Foi meu primeiro contato com a psicologia. Fazer psicoterapia foi um processo incrível, porque ao mesmo tempo em que surgiu a experiência da dor e da angústia que o setting psicoterápico nos permite experienciar, também pude vivenciar de maneira mais lúcida o processo de discernimento vocacional, o que me possibilitou deixar Vocacionário, sem titubear.
Após isso retornei para minha cidade natal, Riachão do Jacuípe-BA, e comecei a me preparar para prestar vestibular. Inicialmente prestei vestibular para o curso de História, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). No entanto, após um mês, decidi abandonar o curso, porque resolvi cursar Psicologia, na Universidade Federal da Bahia, em Vitória da Conquista-BA, onde moro atualmente. Aqui, cursei o mestrado, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), tendo como objeto de estudo as memórias e representações sociais de usuários drogas e dos profissionais de saúde (mental) sobre os usos de substâncias psicoativas. Hoje curso doutorado, também na UESB, com os mesmos aportes teóricos, mas com um objeto de pesquisa diferente, que nasceu da pesquisa do mestrado: as memórias e representações sociais de idosos alcoolistas e suas implicações no processo de envelhecimento.
José Avelange – Quais são as repercussões psicológicas da pandemia e do isolamento social sobre os estudantes e seus familiares?
Janderson Carneiro – É indiscutível que a disseminação global do novo coronavírus (SARS-CoV-2) está provocando uma crise sociossanitária sem precedentes e trazendo elementos de ordem psicossocial, política e afetiva jamais vistos na história moderna da humanidade. Em 19 de junho de 2020, o Brasil ultrapassa a marca de 1 milhão de casos registrados, com aproximadamente 50 mil mortes. Desde a manifestação do primeiro caso da COVID 19, doença provocada por esse coronavírus, no início de dezembro do ano passado, em Wuhan, na China, o número total de infectados tomou dimensão global, o que justifica a decisão da Organização Mundial de Saúde (OMS) de decretar, no dia 11 de março de 2020, um estado de pandemia.
Estamos há quase quatro meses em um estado pandêmico, devido a essa doença contagiosa (COVID 19), disparada globalmente pela rápida expansão desse novo coronavírus, exigindo das autoridades políticas de todo o mundo medidas preventivas e interventivas, como a promoção do isolamento social. Estamos vivendo um contexto pandêmico jamais antes experienciado por todos nós, provocando repercussões em nossas relações sociais, com evidentes implicações em nossa vida laboral e estudantil. Enfim, a pandemia emerge como um fenômeno intercorrente, perante a disfuncionalidade, que não raras vezes, acomete as nossas relações, entre estas as relações estabelecidas entre estudante/escola/família.
É compreensível que, em um cenário pandêmico, fiquemos em um perene estado de alerta, preocupados, estressados, com um elevado grau de irritabilidade, alterações do humor, redução ou interrupção dos vínculos sociais, devido ao isolamento social, etc. Os estudantes e seus familiares estão inseridos nesse contexto anormal e, por vezes, sentem sensações que são típicas, frente a essa realidade, tendo sempre como pano de fundo o risco de ser contaminado e contaminar as pessoas que amamos. Somos todos potencialmente contamináveis.
Isso, indubitavelmente, configura-se como um estímulo disparador para a emergência de reações ansiogênicas e os estudantes e seus familiares não estão isentos destas reações, as quais podemos ilustrar como: a) medo de adoecer e morrer, tendo em vista que somos diariamente informados sobre a curva crescente do número de pessoas contaminadas e do número de óbitos; b) também pode gerar preocupação por parte dos pais, quando estes cogitam que seus filhos podem ficar sem as referências de atenção e trocas sociais que são construídas no ambiente escolar; c) pode levar o relaxamento dos vínculos socioafetivos formados entre a comunidade escolar (professor (a), secretário (a), cozinheiro (a), diretor (a), porteiro (a) etc ) e os estudantes, levando em conta que a escola pode ser um dos poucos canais efetivos de materialização de vínculos sociais que as crianças e os adolescentes podem ter; d) reações comportamentais, como conflitos intrafamiliares, já que as pessoas são obrigadas a ficarem muito tempo em casa, podendo até mesmo aumentar o número de divórcio e uma incidência de casos de violência doméstica (violência contra crianças/adolescentes, mulheres e idosos); e) nesse período a diminuição da renda familiar pode consistir como um elemento estressor e f) a emergência de sintomas psicológicos nesse período de pandemia, que pode provocar alterações no sono (insônia, sono em excesso...), dificuldades de concentração, crises de ansiedades, entre outros agravos à saúde mental.
No entanto, todos esses sintomas e agravos à saúde não podem servir de ponte para a ocorrência de outro grave problema que acomete a família, escola e a sociedade de modo geral, que é o fenômeno da medicalização. Não podemos medicalizar ou conferir uma atribuição médica para aquilo que é da ordem do social.
José Avelange – Que papel ou importância o ambiente (a casa ou a escola) desempenha, na capacidade de concentração e assimilação dos conhecimentos, por parte dos alunos?
Janderson Carneiro – Com o advento do isolamento social como estratégia para conter a disseminação do novo coronavírus e dos impactos da pandemia, diversos serviços estão fechados, entre estes escolas e universidades, afetando assim estudantes e professores que atuam em diferentes níveis de formação, desde o Ensino Fundamental até o Superior. Desse modo, estou plenamente convencido de que o principal desafio, nesse período de isolamento social, configura-se em manter vivo o processo de ensino e aprendizagem, sendo que nosso modelo de aprender depende do ambiente e do estímulo pedagógico da escola.
Culturalmente, não somos estimulados a exercer atividades de natureza institucional no ambiente doméstico, como vem acontecendo com alguns estudantes e professores, quando estes têm horário marcado para participar de aulas remotas, por exemplo. Acredito que a dinâmica escolar apresenta ritos e experiências próprias entre diferentes atores sociais, sobretudo na relação professor/aluno, que durante as aulas remotas, no recinto doméstico, se esta relação quando não se dilui completamente, ela se fragmenta bastante.
Temos hoje uma diversidade de recursos tecnológicos que pode mediar essa relação professor/aluno, tendo em vista a obtenção dos melhores resultados possíveis em um contexto de necessário isolamento social, a saber: os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), que auxiliam os professores no gerenciamento dos conteúdos, as múltiplas plataformas online, incluindo aplicativos com funções que permitem a realização de aulas por videoconferências, entre tantas outras ferramentas.
Apesar do Ministério da Saúde (MEC) autorizar as aulas a distância em universidades federais até o dia 31 de dezembro de 2020, em substituição às aulas presenciais, o que talvez se dissemine em outras instituições de ensino, não podemos relativizar que ainda há disparidade abissal no acesso aos recursos tecnológicos no Brasil, conforme sinalizam os dados divulgados no início desse ano pelo IBGE por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018. Embora, o percentual de domicílios com acesso à internet tenha subido de 74, 9% para 79,1% de 2017 a 2018, o acesso a microcomputador encontra-se presente em apenas 48, 1% dos lares brasileiros. Isso pode dificultar o processo de assimilação do conhecimento em casa, sobretudo no processo de escrita dos trabalhos escolares. Ademais a referida pesquisa trouxe que o celular foi o dispositivo mais usado para acessar internet, com 99, 2% dos domicílios, o que pode ser um agravante para que os educadores consigam manter o interesse dos alunos, diante da elevada atratividade que a internet incide sobre as crianças e juventude.
Enfim, não obstante as dificuldades em tempos de pandemia, a Escola não pode parar, a Ciência não pode parar, a produção do conhecimento não pode parar, sobretudo em uma conjuntura política que pauta-se desveladamente como refutadora do pensamento científico. Os estudantes, professores (as), pesquisadores (as) e educadores (as) são atores que formam uma ampla frente contraofensiva perante os ataques de um patrulhamento anti-intelectualista que nos circunda.
José Avelange – Por que, mesmo antes da pandemia, as escolas vinham registrando tanta incidência de alunos com problemas emocionais e comportamentais, chegando a ser conhecidos vários casos de tentativas e até consumação de suicídio?
Janderson Carneiro – O suicídio é um grave problema de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o suicídio consiste na segunda causa de morte mais frequente na população mundial com idade entre 15 e 29 anos, ao passo que no Brasil o suicídio é a quarta causa mais letal em pessoas de 15 e 29 anos. O comportamento suicida pode ser compreendido como toda reação que esboça um desejo de colocar um ponto final na própria vida, perpassando pela sua ideação, planejamento, tentativa e consumação do suicídio. Trata-se de um fenômeno dotado de uma multideterminação, ou seja, que tem implicações psicossociais, mobilizadas por aspectos de natureza tanto coletiva bem como individual.
Não obstante o cenário político distópico que estamos experienciando nos últimos anos, foi formulada a Lei 13.819, de 26 de abril de 2019, que instituiu a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, apresentando como um dos objetivos “promover a articulação intersetorial para a prevenção do suicídio, envolvendo entidades de saúde, educação, comunicação, imprensa, polícia, entre outras;”, ou seja, é uma questão de saúde pública multideterminada e por isso exige uma articulação de diversos setores sociais, incluindo a escola.
A incidência de alunos com problemas emocionais e comportamentais, culminando com tantos casos de tentativas e até mesmo a consumação do suicídio revela uma face da escola que ainda precisa ser discutida abertamente e escutar a nossa juventude. Antes da consumação do ato suicida, não é muito incomum a manifestação de anúncios que podem revelar o desejo de morrer, como por exemplo a emissão frequente de frases como: “tenho vontade de sumir”, “estou com uma vontade de dormir e não mais acordar” entre outras sinalizações de completa insatisfação com a vida, evidenciado um desejo de morte, que pode ser erroneamente interpretado como uma maneira de se vitimar. Isso pode ser fatal. Nossas crianças, jovens e adolescentes necessitam de um tempo de escuta, uma escuta livre de julgamentos morais, que desconsideram o sofrimento psíquico pelo qual estão passando.
Acredito que diante de um problema que não é possível determinar uma causa específica, que pode envolver frustrações com a própria vida, bullying, a pressão pelo sucesso escolar e profissional, ausência se sentido para vida etc., a escola deve contemplar em seu projeto pedagógico conteúdos referentes à produção do cuidado em saúde mental da comunidade escolar em geral.
José Avelange – É possível ao professor e à comunidade escolar promover saúde preventiva, no campo da saúde mental? Como?
Janderson Carneiro – Sim, é possível. Mas sempre partindo da ideia de que todos precisam de cuidado: estudantes, professores (as), auxiliares de limpeza, secretários (as) etc. A comunidade escolar tem necessidade de cuidados em saúde mental. Estou plenamente convencido de que o planejamento e intervenções de promoção da saúde mental no contexto escolar e para a população infantojuvenil devem ser regidos pela lógica da intersetorialidade, articulando serviços do campo da saúde, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), da assistência social, como CRAS (Centros de Referências de Assistência Social) e a própria comunidade escolar como espaço que demanda cuidado em saúde mental, sobretudo buscando uma formação pautada nos ideários da Reforma Psiquiátrica Brasileira, que pensa o cuidado em saúde mental não mais por uma lógica medicalizadora, mas sim a partir de uma abordagem psicossocial.
Acredito que, ancorada em modelo de cuidado psicossocial, a escola pode desenvolver excelentes intervenções preventivas no campo da saúde mental, a saber: a escola pode desenvolver projetos e oficinas que forneçam aos estudantes e professores condições possibilitadoras para autoconhecimento; a realização de rodas de conversas sobre temas que são considerados tabus sociais, como o próprio suicídio e a sexualidade, com ênfase nas múltiplas configurações de conjugalidades; abordar os usos de álcool e outras drogas a partir dos pressupostos da Redução de Danos, que pensam os usos de substâncias psicoativas em uma vertente não punitiva e desprovida de moralismo etc.
A escola, como dispositivo de promoção em saúde mental, deve ser o espaço da compreensão, da cooperação e não da competição nem do ostracismo. Deve ser o espaço das artes, da poesia, da literatura e tudo pode ser muito bem aproveitado como instrumentos para promover bem estar psíquico, aguçando as competências socioemocionais dos atores que compõem a comunidade escolar.
José Avelange – Quais dicas ou macetes podem ser passados aos estudantes para aprenderem a lidar com o isolamento social e até tirar algum proveito do tempo livre?
Janderson Carneiro – São diversas as implicações sociais decorrentes desse período de isolamento que estamos vivendo. Uma das principais dessas implicações consiste na dificuldade produtiva dos estudantes e na habilidade de gerenciamento do tempo livre. O advento de uma imprevisibilidade de quando a pandemia vai passar também produz comportamentos que dificultam a execução das atividades laborais e estudantis no espaço doméstico, como a procrastinação e dificuldades de concentração, mobilizadas sempre por reações como ansiedade, tristeza, angústia etc.
Em tempos de confinamento social, podemos utilizar algumas estratégias de cuidado, que aparentemente podem ser consideradas medidas simples, mas que atuam como fatores de proteção para a preservação/manutenção da nossa saúde mental, sobretudo na condição de jovens estudantes. Isso se justifica sob a premissa de que as relações humanas são sincronizadas tendo em vista as medidas de uma régua social. O ser humano é um ser social, principalmente os jovens e adolescentes quando estas relações afetivas se intensificam ainda mais.
Algumas estratégias de cuidado que podemos elencar consistem em: a) criar uma rotina durante o isolamento social, uma vez que manter pequenas obrigações diárias pode nos ajudar a organizar o dia a dia, como por exemplo, horário para acordar, dormir, leituras diárias, meditação etc.; b) manter e estreitar as relações sociais de amizade por meio dos inúmeros recursos tecnológicos que temos hoje, como as vídeochamadas, o que possibilita compartilhar a vida cotidiana com os amigos e familiares; c) Criar e manter um boa convivência no ambiente familiar, não obstante as múltiplas dificuldades inerentes a esse contexto, que inclusive pode ser de ordem financeira; d) observar o próprio comportamento e emoções, sempre validando o que está sentindo, sem negar as próprias sensações, visto que esse período pode se caracterizar pela incidência de desconfortos e tensionamentos psíquicos, o que pode exigir a necessidade de uma intervenção do profissional da psicologia. No entanto, vou reiterar o pensamento de que é sempre bom tomar cuidado para não olharmos para um fenômeno de natureza social como uma questão pertencente apenas ao campo psi e ao saber médico.
José Avelange – Qual é a sua mensagem para a juventude jacuipense atual?
Janderson Carneiro – A mensagem que deixo para a juventude jacuipense, nesse momento, é uma mensagem que perpassa por três elementos que considero relevantes: a subversão, ou seja, devemos subverter tudo aquilo que aniquila nossos sonhos e nosso desejo de dias melhores; a interdição de todo e qualquer tipo de patrulhamento ancorado em ideias neofascistas e anticientíficas; e como disse nosso mestre Paulo Freire, é necessário esperançar. Uma esperança da rebeldia. Entre a utopia e a distopia encontra-se a luta, a educação crítica e a participação política como instrumento de transformação social.