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Pequenas histórias sobre grandes personalidades

 

 

 

O Brasil já teve um presidente cigano?

 

A mãe do presidente Juscelino Kubitschek foi uma heroica mulher de origem cigana, que cedo ficou viúva e sustentava os filhos com o parco salário de professora, em uma escola localizada a mais de uma légua de casa, que ela percorria a pé, todos os dias. Chamava-se Júlia Kubitsckek e provinha de uma família de imigrantes checos que se estabeleceram em Diamantina, MG, no auge da mineração. Dizem os biógrafos de JK que seu avô imigrante era leitor voraz de clássicos da literatura e outros títulos, os quais Juscelino leu, ainda criança, influenciando seus sonhos e carreira.

 

Einstein presidente?

 

Uma vez convidaram Albert Einstein para se candidatar à presidência de Israel, mas ele recusou, dizendo que entendia um pouco de ciência e nada de seres humanos. Explicou ainda que não tinha cabeça para problemas. Quando Einstein morreu, levou consigo suas últimas palavras, só porque a enfermeira que testemunhou aquele momento, em Princeton, não sabia alemão.

 

 

Um sósia mais Chaplin que Chaplin?

 

 

Uma vez, Chales Chaplin resolveu participar de um concurso de sósias dele mesmo. Não só não venceu o concurso como ainda nem sequer foi reconhecido como o original Carlitos, entre os outros, caracterizados como o famoso personagem.

 

 

Martin Luther King se chamava Michael?

 

O nome de nascimento do grande mártir pelos direitos dos negros norte-americanos era Michael Luther King Jr. Numa viagem à Alemanha, o pai dele, que era pastor e tinha dado o próprio nome ao filho, ficou tocado em conhecer de perto a vida do fundador do protestantismo, Martinho Lutero, e resolveu rebatizar a si mesmo e ao filho, então com cinco anos de idade, como Martin, em vez de Micahel.

 

Adaptado de:

https://www.stumagz.com/interesting-facts-about-5-great-personalities/

https://www.guiadoscuriosos.com.br


Poeta, jornalista, advogado, baiano, ex-escravo

 

Tributo a Luiz Gama

 

Luiz Gama foi um abolicionista baiano, jornalista, poeta e advogado que sofreu apagamento histórico por mais de um século, em razão de ser negro e talvez igualmente por suas ideias libertadoras. Era filho de um fidalgo português com uma escrava livre (sim, uma escrava que ousava viver a liberdade), chamada Luiza Mahin, participante da Revolta dos Malês, em 1835, e da Sabinada, em 1837.

 

Somente em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) reconheceu Luiz Gama como advogado, corrigindo a injustiça da recusa do registro do jovem negro, com mais de um século de atraso.

 

Em 1880, Luiz Gama escreveu uma carta ao amigo e também advogado, poeta e jornalista, Lúcio de Mendonça. A missiva é autobiográfica e revela pormenores tocantes da vida de Gama, que fora vendido como escravo pelo próprio pai, de linhagem portuguesa. É esta carta que reproduzimos a seguir e que apresenta melhor o grande abolicionista do que qualquer introdução que possamos fazer.

 

 

São Paulo, 25 de julho de 1880

 

Meu caro Lúcio,

 

Recebi o teu cartão com a data de 28 de pretérito.

Não me posso negar ao teu pedido, porque antes quero ser acoimado de ridículo, em razão de referir verdades pueris que me dizem respeito, do que vaidoso e fátuo, pelas ocultar, de envergonhado: aí tens os apontamentos que me pedes e que sempre eu os trouxe de memória.

 

Nasci na cidade de S. Salvador, capital da província da Bahia, em um sobrado da rua do Bângala, formando ângulo interno, em a quebrada, lado direito de quem parte do adro da Palma, na Freguezia de Sant’Ana, a 21 de junho de 1830, pelas 7 horas da manhã, e fui batizado, 8 anos depois, na igreja matriz do Sacramento, da cidade de Itaparica.

 

Sou filho natural de uma negra, africana livre, da Costa Mina, (Nagô de Nação) de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã.

 

Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor de era de um preto retinto e sem lustro, tinha dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa.

 

Dava-se ao comércio – era quitandeira, muito laboriosa, e mais de uma vez, na Bahia, foi presa como suspeita de envolver-se em planos de insurreições de escravos, que não tiveram efeito.

 

Era dotada de atividade. Em 1837, depois da Revolução do dr. Sabino, na Bahia, veio ela ao Rio de Janeiro, e nunca mais voltou. Procurei-a em 1847, em 1856 e em 1861, na Corte, sem que a pudesse encontrar. Em 1862, soube, por uns pretos minas, que conheciam-na e que deram-me sinais certos que ela, acompanhada com malungos desordeiros, em uma “casa de dar fortuna”, em 1838, fora posta em prisão; e que tanto ela como os seus companheiros desapareceram. Era opinião dos meus informantes que esses “amotinados” fossem mandados para fora pelo governo que, nesse tempo, tratava rigorosamente os africanos livres, tidos como provocadores.

 

Nada mais pude alcançar a respeito dela. Nesse ano, 1861, voltando a São Paulo, e estando em comissão do governo, na vila de Caçapava, dediquei-lhe os versos que com esta carta envio-te.

 

Meu pai, não ouso afirmar que fosse branco, porque tais afirmativas neste país, constituem grave perigo perante a verdade, no que concerne à melindrosa presunção das cores humanas: era fidalgo; e pertencia a uma das principais famílias da Bahia, de origem portuguesa. Devo poupar à sua infeliz memória uma injúria dolorosa, e o faço ocultando o seu nome.

 

Ele foi rico; e, nesse tempo, muito extremoso para mim: criou-me em seus braços. Foi revolucionário em 1837. Era apaixonado pela diversão da pesca e da caça; muito apreciador de bons cavalos; jogava bem as armas, e muito melhor de baralho, amava as súcias e os divertimentos: esbanjou uma boa herança, obtida de uma tia em 1836; e, reduzido à pobreza extrema, a 10 de novembro de 1840, em companhia de Luiz Candido Quintela, seu amigo inseparável e hospedeiro, que vivia dos proventos de uma casa de tavolagem na cidade da Bahia, estabelecida em um sobrado de quina, ao largo de praça, vendeu-me, como seu escravo, a bordo do patacho “Saraiva”.

 

Remetido para o Rio de Janeiro, nesse mesmo navio, dias depois, que partiu carregado de escravos, fui, com muitos outros, para a casa de um cerieiro português, de nome Vieira, dono de uma loja de velas, à rua da Candelária, canto da do Sabão. Era um negociante de estatura baixa, circunspecto e enérgico, que recebia escravos da Bahia, à comissão. Tinha um filho aperaltado, que estudava em colégio; e creio que três filhas já crescidas, muito bondosas, muito meigas e muito compassivas, principalmente a mais velha. A senhora Viera era uma perfeita matrona: exemplo de candura e piedade. Tinha eu 10 anos. Ela e as filhas afeiçoaram-se de mim imediatamente. Eram cinco horas da tarde quando entrei em sua casa. Mandaram lavar-me; vestiram-me uma camisa e uma saia da filha mais nova, deram-me de cear e mandaram-me dormir com uma mulata de nome Felícia, que era mucama da casa.

 

Sempre que me lembro desta senhora e de suas filhas, vêm-me as lágrimas aos olhos, porque tenho saudades do amor e dos cuidados com que me afagaram por alguns dias.

 

Dalí saí derramando copioso pranto, e também todas elas, sentidas de me verem partir.

 

Oh! Eu tenho lances doridos em minha vida, que me valem mais que as lendas sentidas da vida amargurada dos mártires.

 

Nesta casa, em dezembro de 1840, fui vendido ao negociante e contrabandista alferes Antonio Pereira Cardoso, o mesmo que, há 8 ou 10 anos, sendo fazendeiro no município de Lorena, nesta província, no ato de o prenderem por ter morto alguns escravos a fome, em cárcere privado, e já com idade maior de 60 a 70 anos, suicidou-se como um tiro de pistola, cuja bala atravessou-lhe o crânio.

 

Este alferes Antônio Pereira Cardoso comprou-me em um lote de cento e tantos escravos; e trouxe-nos a todos, pois era este o seu negócio, para vender nesta Província.

 

Como já disse, tinha eu apenas 10 anos; e, a pé, fiz toda a viagem de Santos até Campinas.

 

Fui escolhido por muitos compradores, nesta cidade, em Jundiaí e Campinas; e por todos repelido, como se repelem cousas ruins, pelo simples fato de ser eu “baiano”.

Valeu-me a pecha!

 

O último recusante foi o venerando e simpático ancião Francisco Egídio de Sousa Aranha, pai do exmo. Conde de Três Rios, meu respeitável amigo.

 

Este, depois de haver-me escolhido, afagando-me disse:

Hás de ser um bom pajem para os meus meninos; dize-me: onde nasceste?

Na Bahia, respondi eu.

Baiano? – exclamou admirado o excelente velho. – Nem de graça o quero. Já não foi por bom que o venderam tão pequeno.

 

Repelido como “refugo”, com outro escravo de Bahia, de nome José, sapateiro, voltei para a casa do sr. Cardoso, nesta cidade, à rua do Comércio n.2, sobrado, perto da igreja da Misericórdia.

 

Aí aprendi a copeiro, a sapateiro, a lavar e a engomar roupa e a costurar.

 

Em 1847, contava eu 17 anos, quando para a casa do sr. Cardoso veio morar, como hóspede, para estudar humanidades, tendo deixado a cidade de Campinas, onde morava, o menino Antônio Rodrigues do Prado Junior, hoje doutor em direito, ex-magistrado de elevados méritos, e residente em Mogi Guaçu, onde é fazendeiro.

 

Fizemos amizade íntima, de irmãos diletos, e Ele começou a ensinar-me as primeiras letras.

 

Em 1848, sabendo eu ler e contar alguma cousa, e tendo obtido ardilosa e secretamente provas inconcussas de minha liberdade, retirei-me, fugindo, da casa do alferes Antônio Pereira Cardoso, que aliás votava-me a maior estima, e fui assentar praça. Servi até 1854, seis anos; cheguei a cabo de esquadra graduado, e tive baixa de serviço, depois de responder a conselho por ato de suposta insubordinação, quando tinha-me limitado a ameaçar um oficial insolente, que me havia insultado e que soube conter-se.

 

Estive, então, preso 39 dias, de 1 de julho a 9 de agosto. Passava os dias lendo e às noites, sofria de insônias; e, de contínuo, tinha diante dos olhos a imagem de minha querida mãe. Uma noite, eram mais de duas horas, eu dormitava; e, em sonho vi que a levavam presa. Pareceu-me ouvi-la distintamente que chamava por mim.

 

Dei um grito, espavorido saltei da tarimba; os companheiros alvorotaram-se; corri à grade, enfiei a cabeça pelo xadrez.

 

Era solitário e silencioso e longo e lôbrego o corredor da prisão, mal alumiado pela luz amarelenta de enfumarada lanterna.

 

Voltei para a minha tarimba, narrei a ocorrência aos curiosos colegas; eles narraram-me também fatos semelhantes; eu caí em nostalgia, chorei e dormi.

 

Durante o meu tempo de praça, nas horas vagas, fiz-me copista; escrevia para o escritório do escrivão major Benedito Antônio Coelho Neto, que tornou-se meu amigo; e que hoje, pelo seu merecimento, desempenha o cargo de oficial-maior da Secretaria do Governo; e, como amanuense, no gabinete do exmo. sr. Conselheiro Francisco Maria de Sousa Furtado de Mendonça, que aqui exerceu, por muitos anos, com aplausos e admiração do público em geral, altos cargos na administração, polícia e judicatura, e que é catedrático da Faculdade de Direito, fui eu seu ordenança; por meu caráter, por minha atividade e por meu comportamento, conquistei a sua estima e a sua proteção; e as boas lições de letras e de civismo, que conservo com orgulho.

 

Em 1856, depois de haver servido como escrivão perante diversas autoridades policiais, fui nomeado amanuense da Secretaria de Polícia, onde servi até 1868, época em que por “turbulento e sedicioso” fui demitido a “bem do serviço público”, pelos conservadores, que então haviam subido ao poder. A portaria de demissão foi lavrada pelo dr. Antônio Manuel dos Reis, meu particular amigo, então secretário de polícia, e assinada pelo exmo. dr. Vicente Ferreira da Silva Bueno, que, por este e outros atos semelhantes, foi nomeado desembargador da relação da Corte.

 

A turbulência consistia em fazer eu parte do Partido Liberal; e, pela imprensa e pelas urnas, pugnar pela vitória de minhas e suas ideias; e promover processo em favor de pessoas livres criminosamente escravizadas; e auxiliar licitamente, na medida de meus esforços, alforrias de escravos, porque detesto o cativeiro e todos os seus senhores, principalmente os reis.

 

Desde que fiz-me soldado, comecei a ser homem; porque até os 10 anos fui criança; dos 10 aos 18, fui soldado.

 

Fiz versos; escrevi para muitos jornais; colaborei em outros literários e políticos, e redigi alguns.

 

Agora chego ao período em que, meu caro Lúcio, nos encontramos no Ipiranga, à rua do Carmo, tu, como tipógrafo, poeta, tradutor e folhetinista principalmente; eu, como simples aprendiz-compositor, de onde saí para o foro e para a tribuna, onde ganho o pão para mim e para os meus, que são todos os pobres, todos os infelizes; e para os míseros escravos, que, em número superior a 500, tenho arrancado às garras do crime.

 

Eis o que te posso dizer, às pressas, sem importância e sem valor; menos para ti, que me estimas deveras.

 

Teu Luiz

 

(In: FERREIRA, Lígia Fonseca (Org.). Com a palavra, Luiz Gama. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2011, p. 199-203)

 

 

 

 

 

Qual foi mesmo a primeira greve da História?

 

 

Já não se faz mais trabalhador como antigamente

 

De acordo com um papiro do Museu Egípcio de Turim, a primeira greve de que se tem notícia aconteceu no Egito, durante o reinado de Ramsés III (1198-1166 a. C.), conhecido pela tirania contra o povo hebreu e tido por historiadores como o último grande faraó.

 

A gota d’água ou, melhor, o grão que levou a turma a cruzar os braços foi o atraso na entrega da ração que fazia parte do salário dos trabalhadores. Há 20 dias, estavam sem receber a porção de alimento porque o governador de Tebas Oriental tinha interceptado a carga de mantimentos.

 

Em que pese a conhecida imagem de escravos trabalhando na construção das pirâmides, descobertas recentes evidenciam que os antigos operários eram bem alimentados, livres e até organizados, a ponto de deflagar uma greve. Eles se dividiam em grupos de 40 a 60, liderados por um capataz e supervisionados por um escriba, encarregado de anotar a produtividade do trabalho e as faltas.

 

O trabalhador faltoso poderia ter sua ausência justificada, em caso de ter que embalsamar familiares, de ferroada de escorpião e até por embriaguez.

 

As informações desse papiro são de causar inveja a muitos trabalhadores contemporâneos e ainda dariam para inspirar outros a lutarem por seus direitos.

 

Livremente traduzido de

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