CORDEL
Ao acessar pelo celular, posicione o dispositivo horizontalmente para melhor visualização.
O amigo da onça
Josy Meire
Vou contar para vocês
A história de um casal
Marilene de São de Sá
E Porfírio de Amaral
Juntamente com Bernadino
Filho de Aderbal
Marilene moça bonita
Que despertava atração
Porfírio um moço estranho
Daquele tipo caladão
E o amigo Bernadino
Falador e fanfarrão
Marilene e Porfírio
Tinham um filho pequeno
O menino Joãozinho
Bonito de olhar sereno
Tinha traços da mãe
E do pai um pouco menos
O amigo Bernadino
Estava sempre por perto
Trabalhava com Porfírio
Na empresa de Adalberto
Esse tinha um filho moço
Chamado Felisberto
Bernadino tinha ciúmes
Da família do amigo
Sentia por Marilene
Um amor muito antigo
E tramou uma armadilha
Como forma de castigo
Disse então para Porfírio
Que prestasse mais atenção
Ao que se passava em sua casa
E nos traços de João
Deixando solto no ar
Que havia uma traição
Porfírio ficou muito bravo
com tal insinuação
disse logo para o amigo
que parasse de confusão
que sua esposa era uma santa
que o amava de coração
Mas as palavras de Bernadino
ficaram em sua mente
e chegando de noite em casa
se comportou diferente
já olhou para Marilene
de uma forma meio descrente
Marilene o recebeu
com o abraço costumeiro
mas Porfírio desconfiado
ficou um pouco cabreiro
sentindo-se incomodado
com um gesto corriqueiro
Joãozinho estava brincando
fingindo ser um vaqueiro
cantava uma toada
falando de catingueiro
de boi, vaca, cavalo
e de porco no chiqueiro
Porfírio não entendia
por que seu filho João
Gostava de vaquejada
E de coisas do sertão
Já que ninguém da família
Tinha tal empolgação
Na mesa do jantar
Marilene estranhou
Porfírio estava distante
Pouca coisa ele falou
E o que Marilene disse
Pareceu que não escutou
Meus amigos vejam só
O que faz a desconfiança
Numa casa que era feliz
Já era visível a mudança
A inveja de um amigo
Com sede de vingança
Bernadino estava decidido
Em continuar seu intento
Procurou então Marilene
E lançou mais um argumento
Disse a ela que Porfírio
Se arrependeu do casamento
Marilene então se lembrou
Da estranheza do marido
Agora com aquelas palavras
As coisas faziam sentido
Ele queria a separação
Pois estava arrependido
Como se isso não bastasse
Bernadino continuou
Numa conversa com Felisberto
Ele então insinuou
que Marilene quando o viu
lhe confessou que gostou
Felisberto ficou atento
E fez cara de contente
Mesmo sabendo do compromisso
Que ela tinha com seu assistente
Decidiu que iria cortejá-la
E aquilo ficou na mente
A semente da maldade
Foi então disseminada
Bernadino fez um enredo
E preparou a cilada
Marilene e Porfírio
Caíram na emboscada
Daquele dia em diante
As coisas ficaram mal
Porfírio não conseguia
Se comportar como tal
Chorava e passava mal
Felisberto se aproximou
Da família do empregado
Se passou por seu amigo
E ali vivia ancorado
Joãozinho por sua vez
Estava meio abandonado
Bernadino comemorava
O sucesso do seu intento
Veja só do que é capaz
Um homem vil e avarento
Destruiu uma família
Feliz em seu casamento
Essa historia tem um final
Para servir de lição
Que nem todos são amigos
Apesar da demonstração
Muitos querem não o bem
Mas sim a destruição
Se você tem um amigo
Cuide dele com lealdade
Porque não tem coisa pior
Que sofrer com falsidade
Você viu o resultado
De quem anda com maldade.
POESIA
Algumas publicações de jacuipenses
GEÓRGIO RIOS
Amanhecer
Na luzinha branca lá fora
uma sombra cinza empobrece.
O pardo brilho aparece.
É o dia?
Quem sabe!
Mais uma estrela empalidece.
MAURO GEOSVALDO
Velas
Velas que tremulam nas embarcações dos sonhos
No mar imenso e intenso da existência
Que penumbram os amores vividos
Velas que ascendem suspiros e alumiam beijos lascivos.
Velas que testemunham namoros alheios
Velas ausentes na escuridão de imperceptíveis presenças
Velas acesas nas crenças
Aquela acesa às mãos de quem está morrendo e insiste vivo na perseverança.
Velas que prometiam sete dias de esperança.
Velas que sombreiam vultos fantasmagóricos das crianças
Na imaginação infantil
Velas, velas tardias.
Velas.
Velas derretidas que parafinaram pingos quentes em traquinices
Velas acesas na peraltice que permearam o tempo do menino
Franzino, traquino e pequeno.
Velas
Velas da alegria daqueles que aniversariam
Resistem aos sopros e permanecem acesas
Velas novas e velhas, velas.
Velará por te um dia
Velará por mim um dia
Velarás por nós um tempo
Um tempo que tremem nas mãos com medos.
Velas e seus segredos, velas.
Velas que velam velhas amizades.
MESSIAS BEZERRA QUEROZ
Homem poluente
Chegou o homem civilizado
Pra mostrar do que é capaz;
Jogou mercúrio pelos mares,
Pelos vales e canais
Chegou o homem civilizado
Com seus navios industriais,
Poluindo os oceanos,
Matando os animais
Jogaram lixo em nossos rios,
Despejaram óleo, queimaram gás;
Sujaram nossas lagoas
E nossos lagos naturais
Este ser globalizado
Só vive chateado
Porque nada o satisfaz
Diz que ama a natureza
Mas só causa impurezas,
Destruindo vidas,
Tirando a paz
RICARDO THADEU
Cosmos
na ponta de uma agulha
uma ampulheta flácida desintegra uma era
sustenta súplicas de um grande elefante
e galopa ofegante
num fio de navalha
RAFAEL RODRIGUES SAMPAIO
In-verso
Um dia
quis ver o mundo de uma forma diferente
imaginei tudo de cabeça pra baixo.
No chão o azul do céu.
No céu o verde do mar.
Pássaros entre as minhas pernas
Peixes a voar
Nuvens de copas de árvores
Estradas de estrelas brilhantes
E tudo ia mudando
Nada era como antes
Quem tinha medo de altura
Não fica mais no chão
Piloto de submarino
Agora pilota avião
Morcego dormindo em pé
Cobra voando no asfalto
Mandioca que era raiz
Agora nasce para o alto
Teve paraquedista
Que virou mergulhador
Quem empinava pipa
Hoje é pescador
Chovia de baixo pra cima
Guarda-chuva ficava no pé
Cachoeira corria ao contrário
Acredite se quiser
Já o Poeta ficou maluco
Escrevia tudo do avesso
Aqui parece o fim
Mas na verdade é o começo
JOSÉ RODRIGUES
Minha Terra
Minha Terra,
Amada desde criança
Berço sólido
Dos pendores nativos
Pedaço de chão
Que desde a infância
Acolhe-nos a todos
Mortos e vivos.
És forte torrão
Que não desmorona
Fertilizando
Os enigmas da natureza
Dos teus filhos
Que jamais te abandonam
Por tua fauna,
Por tua flora
Por tua beleza.
Teu solo é rígido
Estéril durante a seca
És fértil chão
quando a chuva cai
És verde que declina
Na relva fresca
És um mistério
Que sempre nos atrai.
Teu passado
Teve um marco na História
Teu presente
Vislumbra a tua missão
Teu futuro
Fará parte da trajetória
Das grandezas místicas
Do nosso Riachão!
JOSÉ AVELANGE OLIVEIRA
Espécie
O humano insignificante
acredita ter sob controle
a natureza dentro e fora.
Especula, cogita, ora.
Sabe no íntimo quanto ignora.
Só o outro é que decifra
o que seja esta espécie incógnita.